Uma bela manhã, minha filhinha mais nova, Alice, de seis meses, chorava incessantemente.
Não era fralda suja, não era fome, não era nada de trivial. Era apenas alguma agonia daquelas misteriosas, que apenas os bebês conhecem.
Até pouco tempo, só uma pessoa resolvia isso: Eric Clapton, que conectava-se com ela de uma maneira quase cósmica ao som do violão. Dessa vez, nem ele.
Fiz a única coisa que sabia: comecei a contar para ela uma historinha qualquer, fabricada ali, na hora, e carregada de tons e caras e caretas e sorrisos.
Sim: sei que ela certamente não entendeu uma única palavra do meu enredo louco… mas funcionou.
De repente, as lágrimas sumiram como apenas lágrimas de bebês somem e, instantaneamente, seus olhos gigantes passaram a esboçar um sorriso curioso, interessado, quase que antecipando cada volta que a trama dava.
E, depois, ela simplesmente suspirou e foi dormir.
Histórias para crianças, concluí, funcionam até mesmo quando elas não entendem o que dizemos. Até porque as narrativas estão mais impregnadas nos gestos do que nas palavras.