A leitura e o vínculo entre pais e filhos

Semana passada li um artigo sensacional do Itaú publicado no Globo (veja aqui). Sua tese: ler para uma criança fortalece o vínculo entre pais e filhos. 

Conclusão óbvia, se pararmos para pensar – mas obviedades nem sempre costumam ser enxergadas com a clareza que precisam ou merecem. Quando lemos para uma criança deixamos, ainda que por instantes, de ser um pai ou uma mãe: nos transformamos em um narrador, em um guia que as levará por um mundo novo, mais fantasioso, em que tudo pode acontecer. 

É claro que esse papel de guia é uma metáfora para o papel que desempenhamos em nosso cotidiano: educar é, afinal, ajudar os filhos a caminhar por conta própria pelo caminho que eles escolherem. Mas é justamente por ser uma metáfora que o hábito de ler para os filhos funciona tão maravilhosamente bem. Afinal, qual a melhor maneira de fortalecer a confiança com um pequeno do que efetivamente sendo a voz que desenhará para ele mundos totalmente novos? 

Recomendo a leitura desse artigo na íntegra (clicando aqui ou na imagem abaixo). E recomendo também, claro, que você chegue em casa hoje e leia uma história nova para ele. Eu, pelo menos, farei isso com a minha 🙂 

Ciúmes e histórias

Quando Alice, minha filha mais nova, nasceu, os ciúmes da Isa, a mais velha, foram inevitáveis.

Não que tivessem sido ciúmes pesados, recheados de malcriações e birras – o estilo dela é outro. Foram ciúmes muito mais recheados de silêncio, de olhares discretamente preocupados sempre que as atenções de todos estavam voltados para a irmã, de mudança de hábitos e comportamentos para emular a forma com que nós, adultos, lidamos com um bebê.

Para um pai, não foi exatamente fácil testemunhar um silêncio tão audível, tão palpável. Nunca é fácil ver uma filha sofrer, mesmo que por fatos tão humanamente comuns quanto o nascimento de uma irmã. Mas sabia que não adiantava muito afogar o silêncio com palavras quaisquer: às vezes, é preciso deixar o tempo ensinar a digerir as pequenas gigantescas dificuldades da vida.

Foi o que fizemos em casa: nos mantivemos a uma distância saudável, sempre ao alcance, sempre mostrando que o amor não diminuíra em nada, mas sempre respeitando o tempo dela. 

E fomos vendo os efeitos dia a dia a partir justamente da linguagem universal que desenvolvemos em casa: as histórias. No caso de uma criaça de seis anos, os desenhos.

Cada desenho que ela fazia desvendava um pouco os seus momentos. Nos primeiros, havia pai, mãe e bebê em primeiro plano e ela lá no fundo, do tamanho de uma pequena flor; depois, ela fazia par comigo e deixava a mãe no outro canto, com a irmã; em seguida, bastava eu viajar a trabalho por um dia e pronto: ia eu para o cantinho da obscuridade enquanto às três ficavam juntas, imensas, no centro. Isa passou meses experimentando formações familiares, inventando enredos, criando cenas. Meses.

Até que, de repente, meio que da noite para o dia, me deparei com um desenho em proporções dignas de Da Vinci onde estávamos todos lá, completando um quadro completo como deveria ser.

Comecei a observar mais de perto: ainda havia – como ainda há – os momentos em que olhares silenciosos denunciam algum tipo mais secreto de ciúmes… mas a segurança é outra.  É como se o medo tivesse lentamente cedido espaço à noção de que as atenções realmente não poderiam mais girar exclusivamente em torno dela. Algo saudável, eu acrescentaria.

Mas o mais extraordinário de tudo isso, em minha opinião, foi o processo em si. Afinal, tudo o que fizemos foi observar de perto, tecer talvez micromudanças no cotidiano e deixá-la construir a sua própria história, subindo cenas e estruturando enredos por conta própria.

Crianças, concluí, são sempre as melhores autoras das suas histórias.

Dê um livro personalizado no Dia das Crianças

Precisa mesmo de um post para falar isso? Convenhamos…

Se tem uma coisa não se discute que crianças precisam, afinal, é de literatura. É a literatura que ajuda a ensinar, por meio de suas metáforas cuidadosamente engendradas e da maneira com que os grandes temas da infância são abordados, como lidar com o esse mundo tão difícil que vivemos. É a literatura que faz os neurônios gerarem sinapses mais rapidamente. É a literatura que coloca o raciocínio em outro patamar, tão sofisticado quanto a vida de hoje exige.

E, sim, você pode ir a qualquer livraria e comprar qualquer livro para seus filhos ou netos – todos valerão a pena. Mas o que acha de dar um livro com uma história personalizada – um que contenha a própria criança como protagonista e que, portanto, seja mais eficaz em prender a sua atenção?

Eis a proposta da Fábrica de Historinhas: aqui, todos os livros são personalizados para que se encaixem como uma luva na vida do seu filho ou filha. Tem dúvidas? Acesse o site clicando aqui ou na imagem abaixo, veja os nossos títulos e personalize um para seus filhos ou netos agora, no Dia das Crianças!

Uma coisa podemos prometer: o interesse dele por livros, algo tão fundamental na própria formação da inteligência infantil, será certamente impactado!

O Pequeno Príncipe e o valor dos clássicos

Às vezes esquecemos o quão importante são os clássicos. 

Aliás, nos esquecemos que livros viram clássicos por carregarem em suas páginas sabedorias raras, costuradas em enredos sofisticados que conversam fundo com o leitor. 

Me lembrei disso na semana passada, quando li o Pequeno Príncipe para a minha filha de 5 anos. 

Há o começo curioso e exótico, com um ser vindo de um planeta distante tendo sua história contada por um piloto que caiu no Saara. Seus olhinhos já começaram a brilhar por aí, pelos mundos distantes do dela que, subitamente, se apresentavam. 

Mas – e é isso que transform livros em clássicos – logo a superfície foi sendo substituída por temas aprofundadíssimos para crianças. A distância colossal entre seu mundo e o mundo dos adultos, a dificuldade de comunicação, os medos da solidão e do abandono, a morte, o além… 

Em cada página, uma lição nova saía das páginas direto para o seu coração, deixando um rastro de expressões conflitantes, ora aliviadas, ora tristes, ora esclarecidas. 

A saga do Pequeno Príncipe levou quase uma semana, terminando na noite da quinta. 

Não foi uma leitura fácil – principalente quando chegamos no final, quando o Príncipe morre e retorna ao seu planeta. Mas quais grandes sabedorias da vida são fáceis de serem adquiridas? 

A partir daí, até hoje, ela volta e meia faz referências à história – seja tentando “cativar” algum animal, falando da flor ou simplesmente olhando de maneira mais prolongada e pensativa para as estrelas. 

Os conhecimentos dos livros, claro, não são como pílulas que mostram efeito no instante seguinte: são sabedorias que se constroem por impregnação, de história em história, de fantasia em fantasia, de constatação em constatação. 

Eis, para mim, o grande valor dos clássicos: eles permitem saltos comprovadamente impressionantes nessa jornada tão individual que, invariavelmente, levará cada leitor, de qualquer idade, ao mais importante de todos os conhecimentos: o próprio. 

Sabe quem mais compra livros para as crianças aqui na Fábrica de Historinhas?

Avós.

E não estou falando de uma maioria pequena das assinaturas de histórias infantis personalizadas – estou falando de algo na casa dos 85% de todas as compras.

Me deparei com esse número ontem, quando estava me debruçando sobre as nossas estatísticas por pura curiosidade. Confesso que me surpreendi.

Não deixa de ser curioso que, em uma sociedade que tanto reclama da falta de cultura de forma geral, tantos pais acabem deixando para os avós essa que talvez seja a mais importante das “forças educadoras” existentes: a literatura.

Não que isso seja necessariamente ruim – pelo menos, afinal, existe a figura dos avós que se dispõem a passar adiante o amor pelos livros aos seus netos. Mas, por outro lado, são os pais que mais convivem com os filhos – e são os pais colocam os filhos para dormir, que têm as oportunidades únicas de niná-los ao som das letras, que têm dentro de casa as condições perfeitas para usar histórias como ferramentas de crescimento. Sem a presença ativa dos pais, livros deixam de ser histórias mágicas e passam a ser objetos tão irrelevantes como abajures.

As nossas estatísticas não mostram, claro, o que acontece dentro das casas de ninguém. Elas não revelam, por exemplo, se os pais efetivamente lêem as histórias que os avós compraram para as crianças ou se os livros viram apenas tristes peças decorativas nas estantes. Elas também não podem ser lidas com generalismos onipotentes: não sei se essa constatação que tive se aplica à venda de livros infantis na Livraria Cultura, na Travessa, na Curitiba ou em outras.

Tomara que não. Tomara que nossos números sejam apenas um recorte enviesado da realidade e que os pais dêem mais atenção à educação literária dos seus filhos. 

Que futuro se pode esperar de uma sociedade, afinal, sem que suas histórias sejam contadas e recontadas com os devidos entusiasmos?

A escolha da história

No começo, eu mesmo gostava de escolher a historinha da noite para a minha filha. O raciocínio era simples, até simplista: como pai, eu saberia melhor que tema abordar junto a ela.

Há raciocínio mais antiquado que esse, mais digno do século XIX??

Se tem uma coisa que minha filha me ensinou foi que nós não temos a menor pista de quais os temas que realmente atormentam as crianças se não deixarmos elas mesmos dizerem. Observar é importante, obviamente – mas nem sempre os olhos de um adulto conseguirão captar as tantas entrelinhas que se escondem nos olhares de uma criança.

Assim, um novo diálogo, tão rico quanto invisível, passou a se estabelecer entre nós todas as noites. Eu pergunto a ela que livro ela quer ler. Ela escolhe.

Pela sua escolha, percebo alguns medos, algumas ansiedades, alguns temas que parecem estar pairando no ar.

Não os ataco diretamente: com crianças, os caminhos mais curtos tendem a ser também os mais longos. Vou apenas trabalhando tons de vozes e emoções, reforçando falas e trechos da história escolhida. Vou acompanhando os olhares, respondendo a perguntas com desvios de enredo personalizados, colando a fantasia à realidade em pontos-chave.

Depois que passei a fazer isso, a hora da historinha virou algo bem menos protocolar lá em casa: virou uma conversa invisível aprofundadíssima entre pai e filha, algo já esperado como se fosse um dos pontos mais altos do dia.

É impressionante como há sutilezas na conexão com crianças.

childPickingBook

A calma

Quem tem mais de um filho ou filha saberá do que estou falando.

Basta que a barriga cresça ao ponto de parecer insustentável e pronto: a cabeça do mais velho começa a rodopiar, tensa, angustiada, nutrindo aquela curiosidade agonizante sobre o que acontecerá com ela depois que aquele novo e estranho ser romper a barriga da mãe.

Do nosso lado, não foram poucos os desafios. Houve questionamentos, pavores, tiques, camas molhadas. Houve agonia mútua.

Sim, mútua: que pais não se angustiam, afinal, ao perceber a angústia de uma filha?

Mas não havia muito o que fazer senão perseverar, atentos e calmos. Ser pai também é isso: saber manter a calma e o raciocínio frio até nos momentos mais complicados.

Nessas últimas semanas ficamos ali, equilibrando historinhas tranquilizadoras com tentativas de conversas francas e aprofundadas. Fizemos os nossos cortes, demos as nossas broncas quando elas se fizeram necessárias – mas, sobretudo, fomos medindo e tentando desarmar a angústia.

A irmãzinha nasceu. Os três dias de hospital foram uma espécie de clímax da tensão, um ambiente em que todas as dúvidas sobre o futuro que já se transformava em presente pareceram eclodir. Ficaríamos nós dois, pai e mãe, inteiramente dedicados à filha mais nova e ignorando ela, a mais velha, que passaria a viver com os avós na casa? Nunca mais sairíamos daquele hospital? Aquela seria a nossa nova casa, a nossa nova prioridade única de vida?

Para uma criança de 5 anos, sempre vale lembrar, ainda existem monstros sob a cama. Para uma criança de 5 anos, a cama sob a qual os monstros se escondem muitas vezes se chama ‘solidão’.

Mais papos retos. Mais historinhas.

Até que fomos para casa.

Muitas novas introduções: construir a ponte entre filha mais velha e mais nova é sempre fundamental. O que seria do conceito de família sem isso, afinal?

Nova rotina, visitas de curiosos, avós ainda em casa prestando aquela tão fundamental ajuda com as coisas do cotidiano.

Não sei bem em que momento mas, há alguns dias, as coisas pareceram começar a entrar no que podemos chamar de normalidade.

Tiques sumiram, risos choveram com mais frequência, sobrancelhas mudaram de ângulo. Aos poucos, como todas as mudanças importantes da vida. Mas decisivamente.

No domingo passado, os avós voltaram para Portugal, onde vivem. Foi triste, claro – não há despedida feliz. Houve choros, houve promessas de voltas breves, houve aquelas dores de separação que já eram familiares a todos. Vidas em família também são feitas delas.

Ontem de manhã fui a quarto da minha mais velha acordá-la para a escola. Na noite anterior contei a ela uma historinha sobre uma baleia perdida que encontrara o rumo de casa e voltara para a sua família, seguindo com a vida. O livro fora escolhido por ela -uma escolha perfeita.

O sono foi calmo, inteiro.

O despertar, idem.

Ela foi para a escola tranquila, falante, deixando beijos para a irmã mais nova e ignorando boa parte das manifestações físicas das angústias que por tanto tempo a perseguiam.

Passados ficaram no passado.

Sim, sei que novas angústias certamente virão – a vida, afinal, é um infinito ciclo de perigos e vitórias. Mas aquela vitória, pelo menos, parecia estar assegurada.

Quando a deixei dentro da van, seguindo sorridente, suspirei aliviado, cheio daquela certeza de que tudo dará certo.

Subi o elevador de volta.

Em casa, o chorinho faminto da minha nova recém nascida cortava o silêncio da manhã.

Não eram nem 7 horas e o dia já estava tão cheio de acontecimentos.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Já sentiu a reação das crianças ao se verem em uma história?

Temos dois “produtos” aqui na Fábrica: um modelo por assinatura, em que enviamos uma história diferente por mês, e um com histórias de aniversário

Pelo que percebemos, a maior parte de histórias de aniversário são dadas não pelos pais para os seus próprios filhos, mas sim para os filhos dos outros (incluindo colegas de escola ou familiares). O resultado é incrível. 

Como ninguém espera, na prática, receber um livro com sua foto na capa e seu nome protagonizando o enredo, há uma mescla de choque com ansiedade sensacional pela leitura. Aliás, ressalto este ponto: ansiedade pela leitura. 

Não é exatamente isso que queremos desenvolver em nossas crianças para que elas se tornem adultos mais cultos, inteligentes e preparados para encarar o futuro? 

Sei que sou suspeito para falar mas, ao menos aqui em casa, esse virou o presente oficial das festas dos amigos da minha filha 🙂

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