Às vezes esquecemos o quão importante são os clássicos.
Aliás, nos esquecemos que livros viram clássicos por carregarem em suas páginas sabedorias raras, costuradas em enredos sofisticados que conversam fundo com o leitor.
Me lembrei disso na semana passada, quando li o Pequeno Príncipe para a minha filha de 5 anos.
Há o começo curioso e exótico, com um ser vindo de um planeta distante tendo sua história contada por um piloto que caiu no Saara. Seus olhinhos já começaram a brilhar por aí, pelos mundos distantes do dela que, subitamente, se apresentavam.
Mas – e é isso que transform livros em clássicos – logo a superfície foi sendo substituída por temas aprofundadíssimos para crianças. A distância colossal entre seu mundo e o mundo dos adultos, a dificuldade de comunicação, os medos da solidão e do abandono, a morte, o além…
Em cada página, uma lição nova saía das páginas direto para o seu coração, deixando um rastro de expressões conflitantes, ora aliviadas, ora tristes, ora esclarecidas.
A saga do Pequeno Príncipe levou quase uma semana, terminando na noite da quinta.
Não foi uma leitura fácil – principalente quando chegamos no final, quando o Príncipe morre e retorna ao seu planeta. Mas quais grandes sabedorias da vida são fáceis de serem adquiridas?
A partir daí, até hoje, ela volta e meia faz referências à história – seja tentando “cativar” algum animal, falando da flor ou simplesmente olhando de maneira mais prolongada e pensativa para as estrelas.
Os conhecimentos dos livros, claro, não são como pílulas que mostram efeito no instante seguinte: são sabedorias que se constroem por impregnação, de história em história, de fantasia em fantasia, de constatação em constatação.
Eis, para mim, o grande valor dos clássicos: eles permitem saltos comprovadamente impressionantes nessa jornada tão individual que, invariavelmente, levará cada leitor, de qualquer idade, ao mais importante de todos os conhecimentos: o próprio.