A leitura e o vínculo entre pais e filhos

Semana passada li um artigo sensacional do Itaú publicado no Globo (veja aqui). Sua tese: ler para uma criança fortalece o vínculo entre pais e filhos. 

Conclusão óbvia, se pararmos para pensar – mas obviedades nem sempre costumam ser enxergadas com a clareza que precisam ou merecem. Quando lemos para uma criança deixamos, ainda que por instantes, de ser um pai ou uma mãe: nos transformamos em um narrador, em um guia que as levará por um mundo novo, mais fantasioso, em que tudo pode acontecer. 

É claro que esse papel de guia é uma metáfora para o papel que desempenhamos em nosso cotidiano: educar é, afinal, ajudar os filhos a caminhar por conta própria pelo caminho que eles escolherem. Mas é justamente por ser uma metáfora que o hábito de ler para os filhos funciona tão maravilhosamente bem. Afinal, qual a melhor maneira de fortalecer a confiança com um pequeno do que efetivamente sendo a voz que desenhará para ele mundos totalmente novos? 

Recomendo a leitura desse artigo na íntegra (clicando aqui ou na imagem abaixo). E recomendo também, claro, que você chegue em casa hoje e leia uma história nova para ele. Eu, pelo menos, farei isso com a minha 🙂 

Eu e as férias da escola

Já faz tempo que eu desenvolvi o hábito de ler historinhas para a minha filha toda noite, antes dela dormir. É um dos momentos que mais gosto do dia, aliás, por poder testemunhar de maneira impressionantemente nítida o seu crescimento intelectual e o seu entusiasmado encantamento com cada pedacinho de enredo.

Até aí, tudo bem.

Aí vieram as férias, claro, para quebrar a rotina da minha filha. As mesmas férias trouxeram os avós dela para casa, pintaram tudo de família e, como não poderia ser diferente, encheram o ar de alegria. Convenhamos: depois desse 2016, um pouco de mudança de ares é mais que bem vindo, certo?

Indiscutível.

Só que meu posto de contador de histórias foi temporariamente suspenso: para matar as saudades da avó que mora longe, minha filha tem dormido no mesmo quarto que ela e pedido a ela para ser a “leitora oficial”.

Sei, sei… o importante é que o fluxo de literatura ouvido adentro continue a todo vapor. OK. Não discuto isso.

Mas sabem o que descobri? Que ler para nossos filhos é algo que fazemos tanto por eles quanto por nós mesmos.

Nesse mundo tão atribulado que vivemos, passear pela fantasia infantil diariamente é uma bênção inegável para qualquer adulto!

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As histórias como pontes entre os mundos dos pais e dos filhos

Talvez a coisa mais fantástica desse período de alfabetização de crianças seja o mar de descobertas que se abre para elas. 

No cotidiano da minha filha, para usar um exemplo doméstico, ela está lidando com a sensação de crescimento fortalecida depois que o primeiro dentinho ficou mole, a noção de compartilhamento com a notícia da chegada de uma irmã mais nova, as competições por espaço e autoafirmação de personalidade perante as amigas e os tantos emaranhados de realidade e fantasia que começam a explodir na mente como uma espécie de bomba atômica de interrogações e exclamações. Tudo é surpreendentemente novo.

Claro: crescer é uma tarefa que nunca tem fim e a cada dia nós mesmos, do alto da nossa idade, nos deparamos com surpresas (boas e ruins) que transformam a vida em pura aventura. Mas nós, adultos, temos uma estrutura que, embora nem sempre bem resolvida, certamente é mais “bem definida”. Já sabemos separar jôio de trigo, já encaramos as maldades do mundo como fatos da vida (e não como magias de bruxos malignos) e já entendemos que as soluções para nossos problemas precisam ser construídas por nós mesmos. De certa forma, já entendemos a solidão. 

Crianças, não. Ao contrário: elas precisam de guias para ensiná-las que, ao menos até que o mundo das bruxas e fadas fique para trás e que os tantos medos abstratos virem passado, haverá alguém presente para apontar algum tipo de caminho. O papel de um pai ou de uma mãe pode até ser simplificado aqui: somos provedores de segurança. 

Segurança física, obviamente, protegendo os filhos dos males reais que o mundo cisma em ter, mas também segurança emocional. Nesse sentido, nosso papel passar por saber calcular os passos que devemos dar juntos e os que precisamos incentivá-los a seguir por conta própria; os medos que devemos confortar com abraços e os que devemos repelir; as fantasias que devemos incentivar e as que devemos, ainda que aos poucos, dizer que não passam de imaginação. 

A questão é que não se trata apenas de falar, por mais jeito que se tenha, com os filhos. O importante é se conectar, é falar na língua deles – a mesma que mescla fantasias com realidades em fórmulas tão indivíduais que o mero entendimento acaba ficando difícil. Mas, se podemos considerar que há dois mundos distintos entre adultos e crianças, também podemos considerar que há uma porta que os conecta: histórias. 

Humanos não são diferentes de animais porque sabem fazer contas ou jogar xadrez: somos diferentes porque sabemos consolidar todas as nossas abstrações emocionais em metáforas espremidas em histórias. E isso, acrescento, fazemos desde a mais tenra idade. 

Isso também significa que, do alto do século XXI, temos um vasto cardápio para escolher. Há histórias sobre virtualmente tudo, servindo de guias para que pais e filhos se descubram nessa jornada conjunto rumo ao crescimento. E como elas ajudam? Entregando as mensagens reais que carregam dentro de fantasias que encantam os pequenos. 

Histórias são o idioma das crianças. 

Quer ajudar a sua a caminhar e a desvendar essa selva que é a vida real? Leia para ela.