Historinhas para se entender

Crianças tem essa característica de se abrir pouco. Falar, todas falam – por vezes aos cotovelos, até.

Mas quando se trata de seus grandes medos, de suas angústias e fantasias de terror… aí tudo muda.

Tendo a acreditar que esses medos infantis – de abandono, de serem preteridos, de não agradarem etc. – são tão colossais que colocá-los em palavras faladas, por si só, já é algo assustador. E nós, pais?

Ficamos pairando em torno das entrelinhas balbuciadas em horas de descuido, tentando formar e organizar esse quebra-cabeças tão infinito que é a mente infantil. E para fazer o que com ele? 

Conversar sempre é bem vindo, claro. Mas há horas que nossas palavras também caem no vácuo, por mais bem intencionadas que sejam. Nosso papel é mais complexo, muito mais complexo: é ensinar os nossos filhos a se entenderem e entenderem as coisas dos mundos às suas voltas sem que ninguém precise colocar em palavras.

E, se não há nenhuma fórmula mágica para isso, há pelo menos um caminho que descobri faz algum tempo: entrar e usar o próprio mundo da fantasia infantil para criar uma conexão maior, mais densa justamente por ser mais lúdica. 

Em outras palavras: livros infantis, histórias contadas na hora de dormir, são mais que um hábito ou passatempo. São como remédios fabulosos, como lições inteiras que, uma vez contadas, farão efeito inacreditável nas mentes e corações dos pequenos. 

Claro: há que se escolher bem a história. Há que se selecionar aquelas que mais tenham a ver com os temores do momento, com as angústias extravasadas naquelas tão discretas e desesperadas entrelinhas do discurso infantil. Como tudo na vida, há que se entender pelo menos parte do problema para se conseguir começar a endereçá-lo.

Mas a mera existência desse caminho, dessa porta aberta para conexão aos pontos mais nevrálgicos da criança, já é um alento.

A geografia de uma criança

Às vezes, quando me pego contando alguma história para a minha filha de 5 anos, esqueço que alguns referenciais simplesmente não existem para ela.

Para uma criança, o mundo é feito de familiaridades temporária e geograficamente dispersas entre si, descoladas, desconectadas. É um mundo tão diferente que sequer nos damos conta do que estamos contando.

A África, por exemplo, é uma terra com savanas por onde passam leões caçando girafas – mas que também divide espaço com os mesmos prédios pichados e avenidas largas que ela está habituada a ver na São Paulo que vivemos.

Esses prédios são tão onipresentes quando o céu e o arco-íris, aliás.

A Austrália não é muito diferente da África – basta trocar leões e girafas por cangurus.

A Europa, por sua vez, é uma grande Suécia pontilhada de castelos encantados e banhada pelo delicioso clima do sul da Itália. Exceto por Portugal, claro, que na verdade se resume ao apartamento de seus avós.

Há ainda, em sua cabeça, outros mundos que não se encaixam exatamente em continentes: o Egito com suas pirâmides, a Grécia com seus Deuses, a Babilônia com suas torres. Todos eles existem, embora não se saiba ao certo onde ou habitado por quem.

Estados Unidos? Não é exatamente um lugar. Tem os vulcões do Havaí e os belos prédios brancos de Washington, além de um louco artificialmente bronzeado que volta e meia aparece na TV para tomar o tempo de seus desenhos.

São visões de partes, de pequenas histórias ainda sem muita noção de espaço e tempo que, um dia, se costurarão em sua cabeça.

Um dia.

Talvez o marco do fim da infância seja justamente o momento em que esses lugares incríveis se fecharem no mesmo mundo e se dispersarem por muitos tempos.

Um dia, antes que isso ocorra, vou pedir à minha filha que desenhe o mundo tal qual ela o enxerga.

Será a história de todas as histórias.

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Personalizando historinhas na vida real

As historinhas daqui da Fábrica acabaram me dando uma ideia que acabei colocando em prática recentemente: personalizar todas as histórias que conto para a minha filha, apimentando-as com nomes familiares a ela para cultivar mais a concentração.

Pus isso em prática na semana passada, durante uma historia sobre os Deuses Gregos. A história em si já era cativante o suficiente, verdade seja dita, até pelas interferências externas (como trovões ecoando no exato instante em que eu falava da ira de Zeus).

Mas a sua curiosidade assumiu proporções muito maiores quando disse que Afrodite era tão vaidosa quanto ela mesma, que Atena era tão sábia quanto a avó, que foi Eros quem flechou o coração do seu amigo Otto e que todos moravam em uma montanha que ficava na Grécia, bem depois de Portugal (país familiar para ela por ser onde moram os avós maternos).

Claro: é sempre necessário ter o cuidado de não destruir mitos ou histórias – não se pode desensinar uma criança, naturalmente. Mas posso afirmar que essa personalização, essa contextualização do novo no meio do familiar, funciona maravilhas para captar a concentração de uma criança.

Era óbvio, afinal: se funciona com os livros da Fábrica de Historinhas, por que não haveria de funcionar em todas as outras histórias?

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Como escolhemos os nossos livros?

Confesso que descobri o que agora escrevo apenas depois de ter virado pai. Há teorias, afinal, que só fazem sentido mesmo com a prática.

Sempre tive o hábito de ir com minha filha a uma livraria perto de casa para escolher alguma história interessante. Desde cedo, minha maior batalha nesses pequenos templos do saber era fazê-la escolher livros mais ricos do que coletâneas de adesivos ou mesclas de histórias com quebra-cabeças.

Mas, na medida em que íamos desbravando as prateleiras juntos, sempre me deparava com histórias assustadoramente ruins. Para ficar apenas em um exemplo, há uma infinidade de contos com bruxas e seres malignos que simplesmente não tem um ‘final’, um encerramento qualquer que evite que a criança passe semanas a fio se perguntando se algum ser maligno aparecerá em seu quarto à noite para devorá-la.

Teóricos e pedagogos podem fazer qualquer defesa para obras assim – mas, como pai, posso assegurar que crianças, principalmente as mais novas, precisam compreender o conceito de começo-meio-fim até para aprender a separar a fantasia da realidade.

Há outros fatores em jogo também, claro: a qualidade das ilustrações, a resistência das páginas, o volume de texto e, claro, a mensagem implícita no enredo. Fatores como esses foram os que mais levei em conta na hora de criar esse novo negócio, a Fábrica de Historinhas. Não queria que as nossas histórias fossem apenas seleções aleatórias das mais vendidas: queria que todas fossem meticulosamente selecionadas de acordo com o olhar de quem tem filho e não de uma editora.

E acabamos chegando a uma seleção inicial que julgo incrível, com muitos dos livros exclusivos para a nossa plataforma.

Sabe outro ponto importante? Pais não podem escolher livros às cegas: é importante que saibamos como a história se desenrola até para entendermos se ela é ou não ideal para nossos filhos.

Aqui, portanto, não haverá surpresas nesse sentido: os livros que entregamos mensalmente à base de assinantes estão todos abertos para visualização no site, bastando acessar a área de ‘nossos livros’.

Espero que gostem tanto quanto nós gostamos! 🙂

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Comemorando nossos primeiros assinantes :-)

A Fábrica de Historinhas foi lançada oficialmente na quinta passada, um dia depois do Dia das Crianças, quando fizemos a nossa primeira (e ainda super tímida) ação de divulgação.

No próprio dia 13 tivemos nosso primeiro assinante – e já começamos a comemorar como crianças no meio de um mar de brigadeiros 🙂

De lá para cá, não houve um só dia em que não somássemos mais membros à nossa fábrica – e estamos já produzindo os primeiros livros para envio.

Enfim, peço desculpas pelo tom meio egocêntrico desse post – estamos, afinal, celebrando a nós mesmos nesse comecinho de caminhada. Mas não há como ser diferente: todos aqui, tanto do time brasileiro quanto do português, nos esforçamos muito para criar algo que realmente acrescentasse valor ao universo de cada criança – e todos cremos entusiasmadamente que nada muda mais uma vida do que uma boa história.

Que venham, portanto, muito mais.

Vida longa à Fábrica!!!

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