“Quero cortar meu cabelo assim”, falou Isabela, do alto de seus 5 anos, mostrando uma foto de uma menina com corte chanel.
Eu e minha mulher ficamos um tempo parados, apenas olhando e pensando. O motivo: até a noite passada, longos cabelos ao bom estilo Rapunzel eram quase que venerados por ela. Mudança súbita?
No mesmo dia ela elencou uma série de desenhos que não gostava mais de ver. Peppa caiu pelo alçapão, todo o universo da Disney se transformou em “coisa de bebê”, Luna se salvou por um fio. “E brincadeiras?”, perguntei. “Alguma que não gosta mais?”
Lá se foi Polly e massinhas cedendo lugar a desenhos, pega-pega e esconde-esconde.
No dia seguinte Isa chegou para mim com uma caixa de fio dental e me pediu para arrancar o primeiro dente mole que ela tinha na boca. Esse dente já estava por cair faz alguns dias, verdade seja dita – mas eu estava rezando para que o tempo se encarregasse da sua remoção. O tempo, ao que parece, é mesmo mais controlado por nós do que supomos.
Alertei que poderia doer um pouco, que sairia sangue e perguntei se ela não preferiria esperar até o dia seguinte ou mesmo aquela noite.
Nada.
Assim, em um minuto que doeu mais em mim do que nela, amarrei o fio dental e “ploc!”: o dente saiu.
Na noite de domingo, portanto, com o dentinho devidamente posicionado sob o travesseiro, tive a sensação que não estava mais dando boa noite a um bebê e sim a uma criança muito mais madura, formada. O primeiro dente de leite havia sido arrancado; os primeiros desenhos, ignorados; as brincadeiras mais inocentes, sepultadas, e até um corte de cabelo radicalmente novo delineava um conjunto de expressões novas, até então desconhecidas.
5 anos.
Não pude deixar de suspirar um óbvio clichê: “Como passou rápido…”
E também não pude deixar de respirar ao apagar as luzes e sorrir pela sensação de que estamos, de fato, aproveitando tanto cada segundo de convívio dessa incrível fase de transformações.