Logo que comecei a contar histórias para a minha filha, minha maior preocupação era que ela não se perdesse em vocábulos que ela desconhecia. Minha solução? Traduzi-losdiretamente do papel, trocando algumas palavras dos textos por outras que sabia que ela conhecia.
Até que me toquei do quanto essa ideia era péssima.
O raciocínio é simples, mas tão simples, que chega a ser constrangedor. Além dos enredos em si, um dos grandes papéis de histórias – infantis ou não – é ampliar o nosso vocabulário. Com um acervo maior de palavras aprendidas em contextos claros, podemos formular melhor os nossos próprios pensamentos e criar linhas de racionalização muito mais sofisticadas.
Por outro lado, se fugirmos das novas palavras unicamente por elas serem novas, ficaremos sempre presos ao desenvolvimento de pensamentos mais tacanhos, pouco evoluídos, simplórios.
Se isso serve para um adulto de 40 anos, por que não serviria para uma criança de 5 ou 6, justamente na fase perfeita para sugar conhecimento?
Mudei de estratégia, claro. Hoje, ao invés de traduzir palavras, substituindo o novo pelo conhecido, eu as mantenho e, sempre que percebo uma interrogação no olhar da minha filha, páro e as defino melhor.
Não quero exagerar na “corujisse”, mas o fato é que bastaram algumas semanas para que ela desse um salto de inteligência, formulando pensamentos tão sofisticados que até nós, pais, desenvolvemos um hábito de ficar chocados no cotidiano.
É impressionante o quanto nossos filhos nos ensinam quando tentamos ensiná-los.